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.
Universidade Federal de Minas Gerais.
Belo Horizonte, Minas Gerais, 2000.
Se você tiver alguma sugestão ou comentários,
por favor envie-os para: Laboratório de Apoptose/ Departamento
de Patologia Geral/ Instituto de Ciências Biológicas da
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG 31270 010,
Fone: (0xx31) 499 28 87/ 499 28 81 / 9114 78 41
FAX: (0xx31) 499 28 78,
Web
http://www.icb.ufmg.br/~pat/apopt.htm
.e-mail:anilton@icb.ufmg.br
|
NEOPLASIAS
Morfologia
Morfologia Geral (Macro, micro e ultraestrutura); Alterações
bioquímicas; Etiologia & Epidemiologia. Conseqüências
gerais (síndromes paraneoplásicas, metástases, recidiva
e caquexia neoplásica).
"La cellule cancéreuse doit être considérée
comme le produit incestueux d `un parasite et de son hôte".
JEAN BORREL
MORFOLOGIA
GERAL DAS NEOPLASIAS
- Características Macroscopicas:
Geralmente se trata de uma massa anormal
de tecido:
- simples ou múltipla,
- volumosa, pequena ou retraída,
- bem delimitada (encapsulada ou não) ou infiltrante,
- superficial (ulcerada e/ou vegetante) ou parenquimatosa,
- consistente (neoplasias sólidas e cirrosas)
ou macias (neoplasias císticas ou com amplas áreas de necrose).
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volumosa
|
infiltrante
|
superficial
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vegetante
|
consistente
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sólidas
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ulcerada
|
não encapsulada
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úlcero-vegetante
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cirrosas
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múltipla
|
pequena
|
encapsulada
|
parenquimatosa
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nodosa
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macias
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císticas
|
retraída
|
com amplas áreas de necrose
|
bem delimitada
|
As características a
se observar são:
- tamanho,
- pêso,
- forma,
- côr,
- consistência
- aspecto da superfície de corte.
O tamanho e pêso
de uma neoplasia variam amplamente, no entanto sabe-se que os tumores
que alcançam maiores volumes são os de comportamento benigno,
já que as neoplasias malignas costumam matar o hospedeiro bem antes
mesmo de atingir grandes proporções. Existem referências
curiosas sobre neoplasias benignas mais pesadas que o hospedeiro após
a exérese das mesmas.
A forma pode ser:
- nodosa (quando a neoplasia é parenquimatosa
e está em órgãos ou tecidos mais ou menos compactos
onde a colônia tumoral sofre as mesmas resistências em qualquer
área de sua superfície);
- vegetantes (quando em tegumentos e mucosas com crescimento
exofítico/tipo poliposo ou tipo couve-flor);
- úlcero-vegetante (típica de neoplasias
malignas, às vezes com hipercolagenização que retrai,
ocasionando redução de volume da área acometida e
aumento da consistência/"Carcinoma Cirroso").
- ulcerada (comum em neoplasias malignas em mucosas
ou tegumentos).
A côr dependerá:
- do tecido envolvido ( quanto mais celularizado for,
mais acinzentado deverá ser)(no melanoma - cinza ou negro);
- da irrigação sangüínea
(quanto mais irrigado, mais avermelhado);
- das degenerações e necroses associadas
(aumenta o aspecto brancacento-amarelado ou acinzentado).
A consistência dependerá:
- do tipo de tecido envolvido (massa sólida
ou cística);
- da relação estroma/parênquima
(quanto maior, mais consistente);
- da vascularização (quanto maior, mais
consistente)
- da ocorrência de degenerações
e necroses associadas (que reduzem a consistência).
O aspecto da superfície de
corte variará conforme a capacidade invasiva da neoplasia e
a existência ou não de cápsula. Influenciarão também
a presença ou não de degenerações, necroses e
hemorragias.
- Características Microscopicas:
Reveja as características
diferenciais entre neoplasias benignas e malignas.
As alterações microscópicas mais
marcantes são observadas:
- na estrutura tissular (disposição e
polarização das células no parênquima);
- na vascularização;
- na freqüência e tipo de mitoses;
- na celularidade;
- no tamanho e forma celular;
- na relação parênquima/estroma;
- na relação núcleo/citoplasma;
- as alterações nucleares.
A disposição dos oncócitos
no parênquima pode ser:
- em lençóis de células (nas neoplasias
benignas);
- em ácinos (nos adenomas e adenocarcinomas);
- em ninhos de células;
- em paliçada;
- em trabéculas;
- em túbulos
- em arranjos colunares.
A celularidade geralmente está
aumentada, principalmente nos sarcomas, refletindo a incapacidade dos oncócitos
de se diferenciar e de produzir matriz extracelular.
O tamanho e a forma das células
neoplásicas variam conforme o comportamento
da neoplasia. Assim, nas neoplasias benignas geralmente ocorre isomorfismo
celular, enquanto nas malignas há anisocitose e pleomorfismo celular,
às vezes até com multinucleação.
A relação parênquima/estroma
é variável, dependendo do tipo da neoplasia. Assim, as neoplasias
sólidas (altamente celularizadas) diferem significativamente das neoplasias
cirrosas (cujo estroma denso é predominante).
A relação núcleo/citoplasma
é próxima da normalidade nas neoplasias benignas e muito aumentada
nas malignas, indicando nestas perda de inibição por contato.
As alterações nucleares
incluem aumento de volume, pleomorfismo, hipercromasia (devido às alterações
na quantidade de DNA/RNA nucleares), aumento do número e volume de
nucléolos, assim como alterações na forma desses (proeminências
e projeções bem marcadas, com indentações de tamanho,
forma e número variáveis), cromatina nuclear com configurações
grosseiras (bordos bem definidos, ângulos bem marcados, halos paracromatínicos),
e membrana nuclear com espessura variável e com projeções
finas, irregulares e angulosas.
- Características Ultraestruturais:
As alterações subcelulares mais freqüentes nas neoplasias
são:
- Aumento do sistema de microfilamentos e microtúbulos,
o que permitirá maior mobilidade, maior maleabilidade e maior adaptabilidade
à membrana celular dos oncócitos, facilitando as alterações
de membrana (aumentando a captação de nutrientes) (e modificando
os antígenos de superfície - "neo-Ag" e Ag fetais) e diminuindo
os desmossomos (diminuindo as estruturas juncionais, diminuem também
a coesão entre os oncócitos).
- Diminuição do RE (com diminuição
da capacidade de síntese protéica/ explicando assim a redução
da capacidade funcional da célula).
- Aumento dos Ribosomos livres.
- Diminuição das mitocôndrias,
dos lisossomos e do complexo de Golgi.
- Diminuição dos componentes glicoproteícos
de alto peso molecular.
- Aumento da eletronegatividade da superfície
celular.
ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS
GERAIS:
Aparentemente pouco significativas e pouco características (URIEL,
1975 - in BECKER). As alterações bioquímicas podem ocorrer
na constituição celular ou podem acarretar o aparecimento de enzimas
anormais.
- Na constituição celular:
- Diminuição da amplitude enzimática (ocorrendo
simplificação no metabolismo pós diferenciação,
com diminuição das enzimas normais e aparecimento de enzimas
anormais).
- Aumento do teor hídrico celular (epiteliomas>sarcomas).
- Diminuição do pH (devido ao aumento da glicólise
e da síntese de ácido láctico, secundários
à diminuição das mitocôndrias).
- Aumento da concentração de potássio celular.
- Diminuição da concentração de Ca+2
e Fe (aumentando a eletronegatividade celular e diminuindo a adesão
entre as células).
- Diminuição da glicose celular, por aumento da rapidez
de sua metabolização (glicoquinases e aldolases insensíveis
à ingestão de carbohidratos e à liberação
de insulina).
- Diminuição do teor de aminoácidos intracelulares,
ainda que a captação esteja extremamente incrementada (ação
espoliativa da neoplasia)(ocorre síntese de novos antígenos,
de proteínas virais, e de enzimas anormais).
- Aumento do colesterol (muitas vezes tão somente pela maior
extensão das necroses).
- Aparecimento de enzimas anormais: Explica as alterações
no metabolismo energético, as alterações no metabolismo
protílico (com síntese de neo-Ag/ alterações
antigênicas, e/ou com síntese de hormônios polipeptídeos
e somatomedinas/ síndromes paraneoplásicas).
ETIOLOGIA DAS
NEOPLASIAS:
Na grande maioria dos casos, a etiologia é desconhecida ("Proliferação
local de clones celulares atípicos, sem causa aparente...).
Sabe-se, no entanto, da existência de vários fatores que se não
determinam, pelo menos predispõem à oncogênese. Tais fatores
são chamados "Carcinogênicos" (quando determinantes) e "Co-carcinogênicos"
(quando predisponentes), e freqüentemente agem simultaneamente na formação
das neoplasias (Etiologia aparentemente multifatorial).
Dentre os vários fatores considerados potencialmente carcinogênicos,
pode-se citar:
- Fatores genéticos:
Bastante discutível. Baseia-se na observação prática
de que mulheres cujas mães tiveram Ca de mama apresentam 3 vezes mais
risco de terem a mesma patologia que outras mulheres sem história materna
da neoplasia. Um outro aspecto importante é a ocorrência de neoplasias
(ex.: tricoepiteliomas, neoplasias endócrinas múltiplas, "Síndrome
de Gardner", retinoblastoma) hereditárias e mesmo de lesões
pré - malignas de transmissão hereditária (Xeroderma
pigmentoso, "Mancha de Hutchinson" e polipose múltipla de cólon).
- Fatores imunológicos:
A deficiência imunológica parece aumentar a incidência
de neoplasias. A explicação mais provável para esta observação
reside no fato de que quando ocorre diminuição no número
de linfócitos T Killer, ocorre também diminuição
da vigilância imunológica facilitando a sobrevida de células
com neo-antígenos. São fortes evidências deste fato:
- AIDS x Sarcoma de KAPOSI,
- Stress e corticoidoterapia x disseminação de uma neoplasia.
- O relativo sucesso da imunoterapia em alguns tipos de câncer.
- Fatores físicos:
- Radiações ionizantes
(potentes mutagênicos): Sobreviventes de Nagasaki e de Hiroshima,
residentes do deserto de Mojave, e os "radiologistas pioneiros" x Leucemia
mielóide.
- Radiação Ultravioleta
x neoplasias cutâneas (melanomas e carcinomas epidermóides).
As radiações seriam oncogênicas pelos seguintes mecanismos:
- Indução de alterações genéticas
que ocasionem perda do controle da reprodução celular;
- Aceleração do envelhecimento celular com aumento
de mutações espontâneas e predisposição
à transformação maligna;
- Ativação de vírus oncogênicos latentes.
- Traumatismos (próteses mal adaptadas,
pancadas e fraturas ósseas freqüentes) x Carcinomas e sarcomas.
- Fatores químicos:
- O principal carcinógeno químico ambiental é
a fumaça de cigarro, estando associado a ela 40 a 50 % do total
das neoplasias diagnosticadas (95% dos carcinomas broncogênicos,
carcinomas de cavidade oral, do esôfago, das vias aéreas
superiores, etc...);
- Fuligem de chaminés x carcinomas epidermóides de escroto
(POTTS);
- Aflatoxinas x Carcinoma colangiocelular;
- Asbestos x Mesoteliomas e carcinomas pulmonares;
- Aminas aromáticas (azocorantes, anilinas, naftalenos, nitrosaminas)
x carcinomas de vias urinárias (ppte bexiga);
- Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (Benzenos,
derivados do petróleo e fumaças, alcatrão e fuligem,
Dibenzantraceno, Metilcolantreno, cloreto de vinil, etc...) x Leucemias,
neoplasias cutâneas e hemangiossarcomas hepáticos;
- Metais (As x Carcinomas pulmonares e cutâneos; Cr, Br, Ni
e U x carcinomas pulmonares); . Hormônios (estrógenos x adenomas
hepáticos e carcinomas endometriais). A estimulação
hormonial contínua pode ser um fator importante na oncogênese
(exemplo em patologia experimental: cadela ovariectomizada com implante
de tecido ovariano no baço. O implante com o tempo acaba transformando-se
em neoplasia, vez que os estrógenos produzidos no baço são
destruídos no fígado, anulando o feed back com a hipófise,
que então aumenta a secreção de gonadotrofinas);
- Citotóxicos imunodepressores (Alquilantes, ciclofosfamidas,
cicasina, uretano, etionina, gás de mostarda nitrogenada, Beta
propil lactona, etc...).
- Fatores biológicos:
Viroses:
Recomenda-se a leitura das seguintes obras:
- FIENNES, R. N. T. W. Infectious Cancers of animals and man.
New York. Academic Press. 1982. 166p.
- HASUMI, K. O câncer foi derrotado. São Paulo.
Vega Lux. 1986.
DNA Vírus:
- HERPES (O mais importante oncogênico
dos vírus DNA). Associa-se com Carcinomas uterinos e de cérvix
(Herpes II), com o Carcinoma nasofaringeano e com o Linfoma de Burkitt
(Vírus de Epstein-Barr/da Mononucleose infecciosa), com a "Doença
de MAREK" ("Herpes Vírus of Turkey"/vacinação profilática
que não protege contra a infecção, mas sim contra
a formação da neoplasia), com o "Adenocarcinoma renal de
rãs de LUCKÉ" (único exemplo de vírus oncogênico
dependente de temperatura/ no inverno o tumor não cresce, mas produz
vírus; enquanto que no verão o tumor cresce mas não
produz vírus).
- PAPOVA (PApilomas/ cães, bovinos,
homem?; POliomas/ infecção inaparentes em camundongos adultos
e neoplasias em recém nascidos; VAcuoloma/ Símio Vacuolizante
40 - obtido de culturas de células renais de macacos Rhesus ocasionando
sarcomas em Hamster recém nascido).
Podem ocasionar:
- Infecção produtiva com lise celular;
- Transformação ou iniciação (inserção
do DNA viral no genoma celular ocasionando perda do controle do crescimento
celular).
- ADENOVIRUS Tumores produzidos somente
em condições de laboratório.
RNA Vírus:
De acordo com a morfologia vírica à M.E., os RNA vírus
são classificados em:
- Partículas tipo A - associados
às neoplasias de camundongos,
- Partículas tipo B - associados
ás neoplasias mamárias (MuMTV)
- Partículas tipo C - associados
aos linfossarcomas e leucemias em galinhas, camundongos, gatos, bovinos
e macacos. (Leucose Aviaria, Vírus do Sarcoma de Rous, Leucose
Murina, Leucose Felina, HTLV-1/Human T-Cell Leukemia Virus).
Diferentemente do que ocorre com os DNAvirus, a célula parasitada
por um RNA oncogênico é simultaneamente transformada em oncócito
ao tempo em que age como fonte de produção de novos vírions.
Existem muitas controvérsias na subclassificação dos
RNA vírus, porém são citadas como famílias de
importância oncogênica os leucovirus, os oncornavirus e os retrovirus
(assim chamados por causa da transcriptase reversa ou Polimerase de DNA dependente
em RNA, que faz uma cópia DNA/ "Pró vírus" do RNA vírico
e o insere no genoma da célula hospedeira). Importante salientar que
todos os oncornavirus são retrovirus, mas nem todos retrovirus são
oncornavirus.
EPIDEMIOLOGIA
DAS NEOPLASIAS:
Fatores que merecem
atenção:
- Geografia,
- origem étnica,
- tabagismo,
- nível sócio - econômico,
- hábitos de higiene,
- dieta e hábitos alimentares,
- estilo de vida,
- ocupação
- local de trabalho,
- sexo,
- idade
Em 1844 um estudo realizado na Igreja em Verona, Itália, mostrava
que as Irmãs de Caridade tinham um risco de ter câncer de mama
9 vezes maior do que o de ter câncer de útero, enquanto que as
mulheres casadas são mais propensas a ter câncer de útero
(com 2 vezes maior risco) que câncer de mama.
Um dos mais precoces estudos epidemiológicos que foram publicados
(Chicago, 1907) verificou que os germânicos (conhecidos por comerem
muita carne) residentes em Chicago sofriam mais de câncer que os comedores
de massas italianos e os chineses comedores de arroz, todos residentes na
mesma cidade.
Outro estudo interessante, mostrando a importância dos fatores ambientais
sobre a etnia, realizados nos EUA, mostrou que os filhos de africanos e asiáticos
que migraram para os EUA mostram incidência de câncer mais semelhantes
aos americanos que aos seus ancestrais na Ásia e África. Nesse
mesmo estudo concluiu-se que 70 a 90% dos casos de Câncer nos EUA são
causados por fatores ambientais.
Importância
Estimada de Fatores Causadores de Câncer nos EUA
Fator
|
Porcentagem do total de mortes por
Câncer
|
Tabaco
|
30
|
Álcool
|
3
|
Dieta
|
35
|
Aditivos Alimentares
|
<1
|
Comportamento Sexual
e reprodutivo
|
7
|
Ocupação
|
4
|
Poluição
|
2
|
Produtos industrializados
|
<1
|
Procedimentos médicos
e drogas
|
1
|
Fatores geográficos
|
3
|
Infecções
|
10?
|
Desconhecido
|
?
|
Variação na Incidência
de Canceres mais comuns
Tipo de Câncer
|
Maior incidência em
|
Risco
(ate 75 anos)
|
Amplitude de variaçãoa
|
Menor incidência em:
|
Pele |
Queensland |
>20 |
>200 |
Bombaim |
Esôfago |
Nordeste do Irã |
20 |
300 |
Nigéria |
Pulmão |
Inglaterra |
11 |
35 |
Nigéria |
Estômago |
Japão |
11 |
25 |
Uganda |
Fígado |
Moçambique |
8 |
70 |
Noruega |
Próstata |
Estados Unidos ("Black americans") |
7 |
30 |
Japão |
Cólon |
Connecticut |
3 |
10 |
Nigéria |
Boca |
Índia |
>2 |
>25 |
Dinamarca |
Reto |
Dinamarca |
2 |
20 |
Nigéria |
Bexiga |
Connecticut |
2 |
4 |
Japão |
Nasofaringe |
Singapura
(Chineses) |
2 |
2 |
Inglaterra |
Cérvix |
Colômbia |
10 |
15 |
Israel |
Mama |
Connecticut |
7 |
15 |
Uganda |
Útero |
Califórnia |
3 |
30 |
Japão |
Ovário |
Dinamarca |
2 |
6 |
Japão |
OBS:
Amplitude de variação
= Maior incidência dividida
pela menor incidência
O aparente aumento de casuística de câncer na
verdade na verdade não deve ser considerado alarmante Realmente o numero
de ovos casos de câncer a cada ano aumenta significativamente, mas em
boa parte isso se deve ao fato de que a população em geral esta
envelhecendo, e por conseguinte se torna mais propensa. Assim, se esses dados
forem ajustados estatisticamente para idade, somente alguns tipos específicos
mostram realmente aumento de casuística. Câncer de pulmão
se elevou mais de 10 vezes desde 1930 (mesmo com ajustes para idade e sexo).
Mais de 90% desses casos estão relacionados com o tabagismo. Se se faz
um ajuste estatístico para o aumento do tabagismo, não há
aumento da casuística. Quando tomados conjuntamente, os dados epidemiológicos
do câncer sugerem que os fatores ambientais foram os maiores responsáveis
pelo incremento na casuística de câncer.
Agentes ambientais implicados na etiologia
de alguns canceres
Agente
|
Órgão alvo para tumores
|
Aflatoxina (mofo do amendoim)
|
Fígado (Bantús) |
Álcool
|
Faringe, laringe, esôfago,
fígado e glândula mamaria(?) |
Dieta rica em sais,
baixa em Ca e em Vit. C
|
Estômago
(Japoneses) |
Dieta rica em lípides, baixa
em Ca e em fibra
|
Cólon (Americanos) |
Asbestos
|
Pleura (Americanos) |
Raios X
|
Medula óssea (linfomas) |
Luz solar (Ultra-Violeta)
|
Pele (Brancos) |
Corantes de Anilina
|
Bexiga |
Mascar Tabaco
|
Boca |
Fumar Tabaco
|
Boca, pulmões, bexiga,
esôfago, pâncreas |
Vírus da Hepatite
B (HBV)
|
Fígado |
Vírus da Leucemia de células
T humana
|
Timo e baço (linfoma) |
Vírus de Epstein-Barr
|
Medula óssea
(linfoma) e nasofaringe |
Vírus das Papilomatoses humanas
|
Cérvix uterina |
CONSEQÜÊNCIAS
GERAIS:
- Síndromes
para neoplásicas:
· São manifestações clínicas que muitas vezes
acompanham as neoplasias, decorrendo da produção heterotópica
de substâncias com atividade hormonial, da liberação de
substâncias vasoativas, ou de auto-anticorpos produzidos por neoplasias
linfoproliferativas. A maior parte pode preceder as manifestações
primárias ou metastáticas do câncer, e, assim chamar a atenção
para a possibilidade da neoplasia. Exemplos de síndromes paraneoplásicas:
- Amiloidose cutânea/ mieloma múltiplo;
- Hiperpigmentação/ tumores hipofisários,
carcinomas pulmonares, prostáticos, hepáticos e gástricos;
- Hiperparatireoidismo heterotópico/ Ca de pâncreas,
duodeno, e pulmões;
- Feminilização/ Sertolioma em cães;
- Hipercalcemia / Linfossarcomas e Carcinomas de glândulas
perianais;
- Hipoglicemia / Neoplasias afetando as células
Beta das ilhotas pancreáticas;
- Síndrome de Zollinger-Ellison (aumento da secreção
de gastrina) / neoplasias pancreáticas ;
- Síndrome de Cushing / neoplasias da hipófise
e da adrenal.
- Metástases(Meta
= à distancia + stasis = posição):
· É a disseminação de uma
neoplasia primária a estruturas regionais ou a órgãos
e estruturas distantes, provocada por embolização ou transporte
e implantação de oncócitos. É a marca registrada
das neoplasias malignas e representa a maior ameaça à vida dos
portadores destes tumores.
· As vias
de propagação das metástases
são:
- Via sangüínea ou hematogênica:
A invasão venosa é muito mais comum que a invasão
arterial. É a via preferencial dos sarcomas.
- Via linfática:
via preferencial dos carcinomas (mormente os de linhagem ectodérmica)
carcinomas de linhagem endodérmica se disseminam pelas duas vias
com freqüência aproximadamente igual.
- Via canalicular: broncógena, urinógena
ou tubárica.
- Via celomática: Carcinomas gástricos,
intestinais, vesicais e ovarianos com metástases no peritonio.
A pleura também pode ser afetada pelo mesmo mecanismo.
- Via implantação autoplásica:
língua para bochecha, luvas do cirurgião para suturas viscerais
ou cutâneas (pós exérese).
· As fases
da metastatização são:
- Infiltração,
com rompimento da membrana basal: Processo semelhante ao crescimento da
raiz no solo. Ocorre devido à ausência de inibição
de contato, à motilidade oncocitária (movimentos amebóides,
de 1 a 6 micrômetros / minuto ) e à ação de
enzimas líticas, sendo facilitada pelo manuseio do tumor e pela
turbulência vascular.
- Embolização
ou disseminação de oncócitos:
Desgarramento dos oncócitos que se apresentam não coesos
(pela repulsão elétrica e ausência ou escassez de
estruturas juncionais) com transporte e/ou migração dos
mesmos.
- Segregação: É
o estacionamento de oncócitos em vasos de menor calibre (quando
origem embólica) ou em regiões distintas da de origem após
o transporte e /ou migração. As moléculas de adesão
parecem estar envolvidas no fato de certos tumores se metastatizar preferencialmente
em determinados órgãos.
- Sobrevivência:
Nem todos os oncócitos que alcançam a circulação
(Cerca de um milhão diariamente) resultam em metástases.
Cerca de 90 % são destruídos por fagócitos ou anticorpos,
ou podem ser retidos mas falhar na proliferação, ou ainda
podem ser retidos e ficar em latência (viáveis, ainda que
na fase G 0 do ciclo celular - "repouso mitótico", aguardando estímulos
[Stress, senilidade, distúrbios endócrinos, etc...] que
possibilitem sua passagem à G 1 e às demais fases do ciclo
mitótico). Existem pacientes que desenvolveram metástases
anos mais tarde após a exérese do tumor primário.
- Proliferação:
Nem todos oncócitos tem capacidade de proliferar e colonizar
tecidos distintos. Esta habilidade relaciona-se com alterações
bioquímicas na membrana celular, que além de causar a perda
da inibição por contato, podem facilitar o reconhecimento
de tecidos ou áreas de maior afinidade com os oncócitos.
Esta observação é a base da teoria seletiva, que
afirma que determinados tecidos tem maior predisposição
a metástases que outros. O Seminoma canino, por exemplo, ainda
que erosione vasos, raramente metastatiza. As metástases musculares
são raríssimas, ainda que represente uma grande parte da
massa corporal (ambiente desfavorável?). Um câncer pode metastatizar
sem produzir focos no linfonodo regional, através de anastomoses
venolinfáticas no tecido perinodal ou da passagem pelo linfonodo
sem retenção (oncócitos do êmbolo muito maleáveis
e isolados ou em pequenos grupos.). Do mesmo jeito pode ocorrer passar
pelos pulmões sem serem retidos.
Um ponto de grande controvérsia é o esvaziamento
ganglionar ou não após (ou durante) a exérese tumoral.
Enquanto as micrometástases parecem indicar este procedimento,
fica sempre uma dúvida - e a importante função de
filtro dos linfonodos ?
- Recidiva
ou recorrência
(lt: "recidivus" = que se renova): É o reaparecimento
precoce ou tardio de uma neoplasia primitiva no órgão ou tecido
onde foi cirurgicamente extirpado. A causa seria uma exérese incompleta
(persistência de "tumor residual invisível") ("Recidiva por permanência")
ou a persistência dos estímulos carcinogênicos ("Recidiva
por repululamento").
- Caquexia
neoplásica:
Característica do paciente terminal, é um resultado da espoliação
progressiva de nutrientes, da liberação de produtos nocivos, capazes
de modular a ação de enzimas e hormônios, alterando o equilíbrio
entre anabolismo e catabolismo e criar um quadro degenerativo geral, além
da anorexia (dor) e das perturbações nas funções
digestivas.
De volta ao Laboratório de Apoptose
De volta à Patologia Geral
Para
referenciar o material desta publicação: Anilton Cesar
Vasconcelos. Patologia Geral em Hipertexto. Universidade Federal de
Minas Gerais. Belo Horizonte, Minas Gerais, 2000. Se você tiver alguma
sugestão ou comentários, por favor envie-os para: Laboratório
de Apoptose/ Departamento de Patologia Geral/ Instituto de Ciências
Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
MG 31270 010